[Writing Wednesday #1] Personagens Femininas: como entendidas por uma moça de 21 anos (3/3)

quinta-feira, setembro 26, 2013

Atingimos o último capitulo da crónica! Roll the film, steve! (voz de documentário: E agora, Agência e Motivação.)


Agência e Autodeterminação!

(Characters should possess a sense of agency and ego, which is to say that they should be making decisions "themselves" based on their own desires and ideas. [x])

Pegando outra vez na ideia de “porque o autor quer”, lembrem-se: agência! Razões de ser! Razões para tudo! Razões!!!

Uma personagem tem agência. Se a vossa personagem não tem agência, não é uma personagem completa (okay, salvo excepções de enredo)!  Acho que, do meu ponto de vista que pode estar errado ou não, podemos considerar vários níveis de agência. Mas, essencialmente, uma personagem com um menor nível de agência, especialmente central, vai “evoluir” durante a narrativa – pode começar como alguém cuja motivação para viver foi sugada por algo/alguém de modo a que não faz nada por ela mesma, faz o que os outros querem porque os outros querem, mas que ao longo da narrativa evolui e eventos levam a que recupere a sua agência. 

Porque é que a agência é importante? 
Porque está intimamente ligada à forma como a personagem age e reage. Exemplo: Porque é que personagem X é uma prostituta? Porque ela quis? Porque está numa missão ultra-secreta? Porque o autor quis uma prostituta na narrativa? Porque alguém a está a explorar? Uma personagem com agência possivelmente situa-se nas duas primeiras cenas, já “porque o autor quis” é uma clara falta de agência. Resumindo este ponto, deem uma razão para a personagem ter capacidade x ou emprego y, deixem que ela actue de livre vontade, que exista segundo os seus princípios, não os do autor. O melhor exemplo de personagens sem agência são aquelas que não existem fora da plotline do romance com a personagem principal. São também o tipo de personagem mais odiado.

Outra manifestação de agência e autodeterminação: objectivos. Uma personagem sem objectivos é uma carapaça vazia. 
A agência é importante ainda por interagir e ser moldada por experiências passadas da personagem. Fazer com que a personagem tenha um passado trágico só para criar empatia é um big no. Façam o passado contar, pensem como é que a experiência vai moldar a personagem, não se aproveitem do estereótipo da fragilidade da mulher, isso é escrita preguiçosa e downright bullshit. Por outro lado, não desliguem as duas – não façam com que a vossa personagem tenha sido violada (sexualmente, fisicamente, emocionalmente, etc.) e depois aja como se nunca tivesse passado por tal. O passado molda a personagem e a sua agência, ou lack of thereof.  


Motivação

Não façam com que a única motivação da personagem feminina seja agradar às (e/ou procurar a aprovação das) personagens que a rodeiam, especialmente as masculinas. Do not. Isto perpetua o estereótipo da mulher como submissa e não permite evolução. Com certeza, pode encaixar com um romance histórico, ou com algum tipo de plot marado que tenham em mente. Mas ao subjugar a vossa personagem a outra, sem mais nenhuma motivação, estão a retirar-lhe agência.

Repitam o mantra: A mulher é uma pessoa.
A Willow também. Promessa.

Têm motivações e desejos like everyone else! Se Adventure Time tem um cão com motivações legitimas, so can you create a female character with them!
As motivações de uma mulher não se resumem a criar família, arranjar o amor da vida dela, a desempenhar papeis tipicamente femininos na sociedade. Hey, a vossa personagem pode querer ser DJ, cozinheira da marinha (opá sei lá…), pode querer ser a primeira mulher em Saturno!

Romance

Okay, se por acaso até é o desejo da vossa personagem encontrar o amor da vida dela, hear me out againA personagem tem de existir fora desta plotline.

exemplo prático: River Song. Ai River minha deusa ♥

Personagens que existem apenas ao nível do romance são maçadoras, não acrescentam nada à história e tenho a certeza que 90% das pessoas as odeiam. Percebi isto quando andava a ver Teen Wolf (shhhh) – o que acontece é que durante uns 7 episódios…ou 9…a antagonista foi apresentada - e entrava em cena - exclusivamente como interesse amoroso de uma das outras personagens. Eu mantive a esperança que se revelasse a minha teoria de que era ela a antagonista, mas muitas pessoas entraram em desespero a dizer que preferiam que ela fosse a vilã a isto. (Eu queria que ela fosse mesmo a vilã, so.)

Mais do que isto, lembrar que violência doméstica, relações abusivas, relações tóxicas, violações, etc., tudo o que há de mau numa relação Homem->Mulher, também há numa relação Mulher->Homem.

Concluindo:

E assim chegamos ao final do primeiro Writing Wednesday! Espero que tenham aprendido algo ou que pelo menos não queiram vir atrás de mim com torchas e ancinhos em punho.
Não tenham, não criem, personagens femininas só para terem a “token female”. Não tenham medo de dizer: okay não tenho uso para esta personagem, o que faço agora?
if you're a sexist jerk



Artigos e sites consultados, mencionados e link-ados:


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